Não há nada melhor do que estar apaixonado. Nem pior. Primeiro entranha-se. Depois estranha-se. A paixão dá para tudo. Para rir e chorar, fazer confidências, namorar ao luar a beber coca-colas de latas e sentir-se mais feliz do que se estivesse numa suite de trigésimo andar do Pierre em Manhattan a beber Don Perignon.
Estar apaixonado é um estado de graça e de desgraça. Tira sono e dá speed. Rouba a fome e mata a sede. Perde-se a noção do tempo, espaço, até ao ridículo. Ganha-se força, vontade, desejo e anos de vida. Estar apaixonado é investir uma fortuna que demorou anos a amealhar num negócio de alto risco. E ainda por cima fazê-lo conscientemente. Porque a paixão é melhor de que qualquer bebida, droga ou paraíso terrestre. Uma pessoa apaixonada vai aonde quer porque passa de repente a desconhecer os seus limites (…)
Mas a paixão também tem o seu reverso. Uma pessoa fica diminuída. Moída. Distraída. Torna as pessoas inteligentes em seres simples, e os seres simples em criaturas acéfalas. Faz pessimamente à saúde.
Provoca insónias, suores frios, falta de apetite, obsessão por chocolates, tonturas, dores de estômago, prisão de ventre, olheiras, borbulhas, dores de ouvidos e dores de cabeça. Faz subir a tensão e provoca taquicardia. Às vezes, até faz o cabelo ficar oleoso. (…)
Estar apaixonado é como partir à procura de um tesouro, qual Indiana Jones, mas sem pistola nem chicote. Não só ficamos completamente desarmados como nos tornamos em seres infelizes. Ficamos à mercê do mundo e, pior ainda, de nós próprios.
Mas nada conta, porque faça chuva ou faça sol, os dias são todos azuis e apesar de terem sempre 24 horas, não há nenhum igual ao outro. É preciso viver a paixão até ao fim, mesmo que seja amanhã, porque o que conta é o que se sente aqui e agora. A paixão faz-nos sentir prisioneiros e livres ao mesmo tempo. E não há nada melhor do que saber que se tem asas e não voar, só para ficar no ninho e esperar que um dia o ovo choque e dele nasça o fruto da paixão.
Margarida Rebelo Pinto