segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tratado de Paixão

Não há nada melhor do que estar apaixonado. Nem pior. Primeiro entranha-se. Depois estranha-se. A paixão dá para tudo. Para rir e chorar, fazer confidências, namorar ao luar a beber coca-colas de latas e sentir-se mais feliz do que se estivesse numa suite de trigésimo andar do Pierre em Manhattan a beber Don Perignon.
Estar apaixonado é um estado de graça e de desgraça. Tira sono e dá speed. Rouba a fome e mata a sede. Perde-se a noção do tempo, espaço, até ao ridículo. Ganha-se força, vontade, desejo e anos de vida. Estar apaixonado é investir uma fortuna que demorou anos a amealhar num negócio de alto risco. E ainda por cima fazê-lo conscientemente. Porque a paixão é melhor de que qualquer bebida, droga ou paraíso terrestre. Uma pessoa apaixonada vai aonde quer porque passa de repente a desconhecer os seus limites (…)
Mas a paixão também tem o seu reverso. Uma pessoa fica diminuída. Moída. Distraída. Torna as pessoas inteligentes em seres simples, e os seres simples em criaturas acéfalas. Faz pessimamente à saúde.
Provoca insónias, suores frios, falta de apetite, obsessão por chocolates, tonturas, dores de estômago, prisão de ventre, olheiras, borbulhas, dores de ouvidos e dores de cabeça. Faz subir a tensão e provoca taquicardia. Às vezes, até faz o cabelo ficar oleoso. (…)
Estar apaixonado é como partir à procura de um tesouro, qual Indiana Jones, mas sem pistola nem chicote. Não só ficamos completamente desarmados como nos tornamos em seres infelizes. Ficamos à mercê do mundo e, pior ainda, de nós próprios.
Mas nada conta, porque faça chuva ou faça sol, os dias são todos azuis e apesar de terem sempre 24 horas, não há nenhum igual ao outro. É preciso viver a paixão até ao fim, mesmo que seja amanhã, porque o que conta é o que se sente aqui e agora. A paixão faz-nos sentir prisioneiros e livres ao mesmo tempo. E não há nada melhor do que saber que se tem asas e não voar, só para ficar no ninho e esperar que um dia o ovo choque e dele nasça o fruto da paixão.

Margarida Rebelo Pinto

domingo, 28 de novembro de 2010

Longe

Parece que só hoje acordei para a realidade. Estou longe e nada é tão fácil como pensamos ao início. Tomei uma decisão. Fiz as malas e vim embora. Porquê? Porque vim lutar por aquilo que queria. Porque como alguém um dia me disse “o meu futuro não estava perto de casa” e não estava mesmo, porque precisei de vir para tão longe para descobrir quem estava tão perto de mim, do meu coração.
Não perdi ninguém, não esqueci ninguém, todos os que ficaram longe continuam bem gravados no meu coração e vão continuar, pois cada um deixou a sua marca em mim, em quem fui um dia e em quem sou agora, bem como na pessoa que me vou tornar no fim desta grande jornada.
Dou por mim a pensar em todas as pessoas que deixei e sentir as lágrimas a descerem pela minha face. São lágrimas de saudade, de amizade e de amor que choro quando estou sozinha, longe do vosso abraço, da segurança que dão ao meu pequeno mundo.
Conto os dias para fazer a mala, arrumar aquilo que preciso para passar um par de dias, onde encontro tudo o que conheço, tudo lo que deixei para trás. Terra onde eu cresci, onde fiz amigos para a vida. Onde estou segura, onde estou feliz. Não que esteja infeliz aqui, só não estou completa, não estou em plenitude, sinto que falta algo, uma parte de mim.
Arrependimentos? Nem um, nem por um segundo. Como se diz por aí, "tudo acontece por uma razão" e encontro a razão no rosto daquelas pessoas que quase moram aqui em casa, que posso chamar de amigos e mais, que se tornaram parte da minha família.
Olhando para trás, estar longe não é mau, mas continua a doer na alma e no coração.